Conferência e Mini-curso | Prof. Leonel Ribeiro dos Santos | UFU – 20 e 21 de maio de 2014
Universidade Federal de Uberlândia
Faculdade de Educação
Prof. Dr. Leonel Ribeiro dos Santos
(Universidade de Lisboa/UFSC – CAPES)
Conferência: «O único animal que tem de ser educado». Novidade e significado do pensamento antropo-pedagógico de Kant
21 de maio de 2014, Bloco G, Sala 145, 9:00 horas
Mini-curso: Os “paradoxos de Rousseau” e a gênese do pensamento político de Kant
20 e 21 de 2014, Bloco G, Sala 145, 19:00 horas
Realização: Programa de Pós-Graduação em Educação
Organização: Romana Valente Pinho / Márcio Danelon
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Resumo da Conferência:
Preceptor privado que foi durante cerca de oito anos (entre 1747-1755) e professor universitário durante mais de quarenta anos (1755-1797), Kant pontuou a sua prática pedagógica com recorrentes reflexões de maior ou menor dimensão sobre a educação e chegou mesmo a lecionar vários cursos de Pedagogia na sua universidade. Essa faceta da sua personalidade e da sua obra tem sido, porém, tradicionalmente secundarizada ou mesmo desvalorizada, até pela razão de que, ao contrário de Locke ou de Rousseau, ele não escreveu nem publicou nenhuma obra expressamente dedicada a esse assunto, embora os apontamentos dos seus cursos de pedagogia tenham sido organizados e publicados por um seu discípulo pouco antes da sua morte.
Propomo-nos mostrar que o problema da educação está no centro das preocupações e interesses filosóficos de Kant e constitui um domínio em que se ligam tópicos maiores da sua obra, nomeadamente da sua filosofia moral, da sua filosofia da religião, da sua filosofia política, da sua filosofia da história. Não é só a faceta do filósofo iluminista que assim se revela, como fazendo depender o progresso da humanidade no sentido moral e político da educação enquanto principal fator de transformação, que, a pouco e pouco, sem violência, com a mudança das mentalidades produz a das instituições sobretudo políticas, as quais, por fim, criarão as condições para que seja possível a plena realização da destinação da humanidade, entendida não só como indivíduo mas obretudo como espécie. Revela-se também nisso uma faceta fundamental da antropologia kantiana, marcada pela ideia de que tudo o que o homem pode alcançar para a realização dos germes de humanidade que a natureza nele originariamente pôs, tem de tirá-lo ele de si próprio mediante o seu esforço e trabalho. Por isso, «o homem é o único animal que tem de ser educado», pois, se o não for, nunca chega sequer a merecer o qualificativo de homem e será ainda pior do que um simples animal, pois a este a natureza supre completamente.
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Resumo do Mini-curso:
O mini-curso tem como objetivo surpreender a gênese e a matriz antropológica do pensamento político de Kant, acompanhando a hermenêutica e avaliação crítica que o professor Kant faz do pensamento antropo-político de Rousseau, numa das últimas seções dos seus Cursos universitários de Antropologia a partir do ano de 1775/76. Esses materiais estão disponíveis desde 1997, no volume 25 da Akademie Ausgabe dos escritos de Kant (edição feita por R. Brandt e W. Stark). Será disponibilizada e seguida, para o trabalho analítico, a tradução portuguesa de Fernando Silva da versão dessa seção do Curso de 1775/76 (Anthropologie Friedländer), publicada na revista eletrônica Estudos Kantianos, vol. I, nº 1 (Julho-Dezembro de 2013), com «Apresentação», na mesma revista, de Leonel Ribeiro dos Santos.
No mínimo, pode-se desta forma reconhecer o infundado da tese que remete para os anos 90 o interesse de Kant pela política. Mas mais importante é ver como o pensamento político de Kant se constitui, nas suas teses e determinações essenciais, na mesma época em que se elabora o pensamento crítico de Kant e assim chegar a
compreender melhor o porquê da configuração originariamente política da própria filosofia crítica, um dado que a hermenêutica actual do pensamento kantiano não pode mais negar.